Sim, o título é um tipo de intertexto com o meme musical do momento – a tal Caneta Azul, Azul Caneta.
Porque, na noite desta quinta-feira, no Serra Dourada, a Camisa Verde rabiscou (alô, João Grego!) a iminente vitória rubro-negra.
Camisa pesa. Camisa joga. E, apesar dos pesares dos últimos anos, do declínio de patamar causado pelo mau costume recente de disputar a Segundona, a camisa alviverde deve ser sempre honrada e respeitada.
O Goiás Esporte Clube está na Série A desde 1973. Tem de Brasileiros o que eu tenho de idade. Nesse tempo, 39 edições com seu nome registrado. Ficou fora da principal divisão por apenas 8 anos – apesar do sinal ruim emitido por ter passado metade da última década na Série B.
Só contra o Flamengo, na história esmeraldina, são mais de 50 jogos. Entre eles estão uma final e uma semifinal de Copa do Brasil, é preciso lembrar também.
Apesar dos tempos bicudos em campo, apesar da diferença de finanças (provavelmente só o salário de Gabriel Gabigol Barbosa paga a folha do time titular inteiro do Goiás), apesar da clara desvantagem técnica, existe uma tradição a ser respeitada inclusive neste confronto.
O valente 2 a 2 desta quinta-feira, depois de estar em desvantagem de dois gols, redime o 6 a 1 desastroso do primeiro turno.
Apesar de a goleada daquele domingo de manhã não ser esquecida nunca mais por nenhum dos lados, os esmeraldinos se lembrarão sempre da frustração dos flamenguistas goianos que esperavam uma reedição do massacre e saíram do Serra Dourada com o gol de Michael aos 49 grudado nas retinas.
Aliás, que estrela tem o baixinho da camisa 11, hein? Como o Baixinho que eternizou o mesmo número e já fez muito esmeraldino voltar pra casa com gosto amargo na boca em outras décadas, Michael some da partida, parece estar alheio ou até perdido nele, e de repente aparece para decidi-la. E, apesar de franzino, como ele se agiganta em jogo grande!
A dupla de Rafaeis merece destaque especial, e não só pelo protagonismo traduzido em um gol de artilheiro e uma belíssima assistência. Apesar do começo claudicante de ambos na equipe, Moura e Vaz estão crescendo jogo a jogo e ganhando a confiança da torcida.

Parabéns a serem dados também à comissão técnica comandada por Ney Franco, que estudou e conseguiu obstruir o acesso do ataque rubro-negro à área esmeraldina. Na única vez que furaram o bloqueio, Tadeu estava lá e fez sua parte. Apesar disso, em outras vezes o perigo veio pelo alto e daí surgiram uma bola na trave e os dois gols.
Por fim, o último apesar: por mais que tenha havido toda uma febre (merecida) em torno da vinda a Goiânia do ótimo Flamengo de Jorge Jesus, por mais que o lado rubro-negro tenha realmente ficado mais cheio, a galera verde tomou sua metade também e cantou o tempo todo. Apesar do descaso histórico a que são submetidos, os esmeraldinos insistem em resistir.
LINCOLNEANAS
* * * * * Não há por que ter dúvidas mais: a segurança defensiva do Goiás é uma com Gilberto Júnior e outra, bem menor, sem ele. O ex-jogador da Anapolina provou que é, sim, atleta de Série A.
* * * * * Curiosidade tipo cultura inútil para quem ainda não ficou sabendo: o 286 com que o goleiro Tadeu ostentou na camisa corresponde ao número de sua figurinha no álbum do Brasileirão 2019.
* * * * * Outra curiosidade, esta mais técnica: o lance em que o goleiro César foi expulso por dar um pontapé em Yago Felipe gerou escanteio em vez de falta para o Goiás porque o árbitro Ricardo Marques optou por deixar a jogada seguir – a lei da vantagem.
* * * * * Escrevi este texto antes de saber da morte do torcedor Helenio Rodrigues Cardoso Filho. Uma confusão previsível e uma tragédia que ironicamente envolve um policial (agente civil). Dizem que foi por conta de uma cerveja, outros que tentaram tirar a camisa de flamenguistas. Há diferentes versões e as circunstâncias serão devidamente apuradas. Por enquanto, só restam dar os pêsames à família do esmeraldino e lamentar o que se tornou o esporte mais popular do Brasil, especialmente nestas terras. Que triste.